O que é a dor, afinal?
A dor é uma experiência humana universal, mas sua compreensão e tratamento têm evoluído significativamente. Longe da visão simplista de que a dor é apenas um problema físico a ser curado, a neurociência moderna e abordagens mais completas nos mostram que ela é muito mais complexa.
A Dor Não é Apenas Física.
O modelo médico tradicional frequentemente enxerga a dor como um sintoma direto de um problema físico, buscando uma cura única e exata. No entanto, essa perspectiva limitada dificulta entender a dor que, muitas vezes, não tem uma causa física clara. Mesmo com o avanço da tecnologia, focar apenas em diagnósticos precisos pode não ser suficiente para a complexidade da dor atual. Nem toda dor significa que algo está "quebrado" em seu corpo.
A neurociência moderna revela que a dor transcende lesões ou falhas estruturais, e a ideia de uma cura permanente pode ser um equívoco. Um exemplo prático são os diabéticos com neuropatia periférica que podem não sentir dor, o que pode resultar em lesões graves, provando que a ausência de dor nem sempre é benéfica.
Uma Abordagem Integral
Em contraste com a visão tradicional, o modelo biopsicossocial da dor engloba fatores psicológicos, sociais e ambientais, mantendo a biomecânica como um de seus componentes. Essa abordagem exige uma análise abrangente dos profissionais de saúde, reconhecendo que a dor é uma interpretação do seu cérebro, e não uma invenção. É crucial evitar o estigma de que a dor seja meramente "psicológica" ou "psicogênica" em um sentido depreciativo.
Fatores psicossociais não são sinônimos de doenças mentais, mas incluem aspectos como estresse, ansiedade, depressão, medo do movimento, catastrofização, autoeficácia e enfrentamento, que podem interferir nos sintomas. Esses fatores influenciam tanto em dores agudas quanto nas crônicas. Negligenciar esses aspectos na fase aguda pode facilitar a cronificação da dor. Pensamentos catastróficos e histórias negativas sobre a dor podem influenciar negativamente a percepção e o prognóstico da sua condição de saúde e dor.
O Cérebro e a Neuroplasticidade
Assim como um músculo, o cérebro pode ser treinado, com foco no sistema nervoso central para promover neuroplasticidade positiva e auxiliar na reabilitação. É importante desmistificar informações ultrapassadas que ainda moldam crenças negativas sobre as causas da dor. Por exemplo:
Curvaturas da coluna como lordose e cifose não têm relação com dor porque são curvaturas fisiológicas. E a escoliose não tem relação direta com dor; nem todo paciente escoliótico apresenta dor.
Dor lombar em crianças por carregar o peso das mochilas é um mito. Fatores psicossociais têm maior impacto na dor em crianças do que aspectos mecânicos.
Proibir o carregamento de peso pode limitar a atividade muscular e, por consequência, o condicionamento físico, criando crenças limitantes sobre a força da coluna.
Compreender a dor é o primeiro passo.
Solicitações precoces e inadequadas de ressonância magnética podem influenciar a interpretação da dor pelo cérebro. Isso ocorre devido ao efeito nocebo que é um fenômeno psicológico em que as expectativas sobre os resultados dos exames afetam negativamente o paciente.
Alterações em exames são comuns em indivíduos que não sentem dor, especialmente com o avanço da idade.
Seus objetivos, hábitos de saúde, resiliência, suporte social, crenças, valores e preferências interferem na melhora ou piora dos sintomas.
Compreendendo a Dor: O que você precisa saber
A dor é muito mais do que apenas um incômodo físico. Ela é uma experiência complexa e pessoal, influenciada por diversos fatores. Para entender melhor, pense nestes pontos:
A dor não é só "física": Ela não se resume à ativação de receptores no seu corpo. Fatores conscientes e inconscientes também influenciam como você a sente.
Nem sempre significa lesão: A dor é um alerta, um sinal de que algo pode estar errado. Mas, nem sempre indica que houve uma lesão grave nos seus tecidos.
É uma experiência complexa: A dor tem uma existência biológica, psicológica e até mesmo em sua vida social pois afeta a forma como você percebe a dor. É uma experiência que envolve várias dimensões.
Dor e "sentir algo" são diferentes: Existem diferenças entre sentir um estímulo e sentir dor. A dor não pode ser deduzida apenas pela atividade dos seus neurônios.
A dor é aprendida: Nossa cultura e as experiências que vivemos ao longo da vida moldam a forma como entendemos e reagimos à dor.
Sua palavra é o mais importante: Se você diz que sente dor, isso deve ser levado a sério. Seu relato verbal é o padrão ouro para identificar a dor, independentemente do que se observa.
Pode proteger, mas também prejudicar: A dor pode ser um mecanismo de proteção, alertando sobre perigos. No entanto, ela também pode levar à incapacidade e afetar negativamente seu bem-estar social e psicológico.
Nem toda dor é expressa em palavras: Nem sempre a dor é verbalizada. A incapacidade de falar sobre a dor não significa que ela não exista, tanto em humanos quanto em animais.
Tipos de Dor:
Identificando os Mecanismos para um Tratamento Eficaz
As dores não são iguais e, portanto, não podem ser tratadas da mesma forma. É imprescindível que o profissional de saúde saiba identificar os mecanismos de dor. Entenda elas:
Dor nociceptiva: É a dor diretamente relacionada ao tecido afetado, que pode variar em intensidade e ser constante ou intermitente, piorando ou melhorando com estímulos claros.
Dor neuropática: É a dor causada por lesão ou doença do sistema nervoso, frequentemente descrita como choque ou ferroada, seguindo um caminho pelo corpo.
Sensibilização central (nociplástica): É uma dor difusa, imprecisa, desproporcional à lesão, influenciada por fatores psicossociais e que não obedece à proporção entre carga e dor.
Seu Papel no Tratamento
Você, ao entender sobre seus sintomas e saber explicá-los ao profissional de saúde, encurta o caminho para um tratamento eficaz. A colaboração entre paciente e profissional é fundamental para um manejo adequado da dor e para alcançar o bem-estar desejado.
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